A morte é um projeto coletivo

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

a morte nas bibliotecas

Ele estava lá, nas manchas que estavam na parte inferior da jaqueta, ele estava lá, no cheiro das axilas. Acima de tudo, ele estava lá, no cheiro. Foi assim que comecei a pensar sobre roupas. Eu lia sobre roupas e falava aos amigos sobre roupas. Comecei a acreditar que a mágica da roupa no fato de que ela nos recebe, recebe o nosso cheiro, nosso suor, até mesmo nossa forma. E quando nosso pais, nossos amigos e nossos amantes morrem, as roupas ainda ficam lá, penduradas em seus armários, sustentando seus gestos, ao mesmo tempo confortadores e aterrados, tocando os vivos com os mortos

Stallybrass, Peter,  “O casaco de Marx”

encontrado em "jardim regado com lágrimas de saudade - morte e cultura visual na venerável ordem terceira dos mínimos de são francisco de paula" livro de henrique sérgio de araújo batista, livro histórico, com passagens interessantes, não podia fotografar no Museu histório municipal, tinha poucas imagens.

em outro capítulo, entitulado "O jardim, a pedra, a perda e o poema" o autor cita um livro de 1842 de Luiz vicente de simoni cujo título é:

GEMIDOS POÉTICOS 
SOBRE TÚMULOS 
OU 
CARMES EPISTOLARES DE 
HUGO FOSCOLO, HYPOLITO PINDEMONTE E JOÃO TORTI, 
SOBRE OS SEPULCROS
 TRADUZIDOS DO ITALIANO 
PELO DR. LUIZ VICENTE DE SIMONI, 
COM OUTROS DO MESMO TRADUTOR 
SOBRE A RELIGIÃO DOS TÚMULOS E 
SOBRE OS TÚMULOS DO RIO DE JANEIRO

bizzarro pela extensão...

e no fim só percebi depois que eu tinha encontrado um trecho deste livro em outra biblioteca, nos volumes deste livro:


dois volumes de uma extensa pesquisa, com imagens interessantes:



eu não conhecia este termo "câmara-ardente"















achei também este outro livro menorzinho, com informações mais de arquitetura e antropologia dos cemitérios:



e tinha também um desses bem burocráticos:








encontrei também uma citação sobre uma revista portuguesa de 1868 chamada "revista dos monumentos sepulchraes", mas não achei namda na internet sobre o conteúdo. só vi que está disponível na biblioteca Nacional de Portugal.




outro livro mais técnico é um italiano chamado "arquitetura funerária moderna", que começa falando das tumbas e pirâmides do egito, depois da grécia, roma e cemitérios contemporâneos da Itália, mostrando projetos de arquitetura.
mas este livro tbm estava na biblioteca onde não era permitido fotografar.



pesquisei tbm nas bibliotecas da usp, pelos sites das bibliotecas, mas nenhuma pesquisa passa perto da que estamos fazendo, o que me parece interessante


algumas notas # 1 _ roberta

laminar luminar


- rosto no retrato = relação de um cerco (enquadramento) com uma abertura (olho) | uma órbita e uma gaiola | o olhar é o rosto inteiro
“algo gira ao redor do olhar: não basta que o retrato se organize ao redor de uma figura, esta também tem que se organizar ao redor de um olhar, ao redor de sua visão ou de sua vidência. O que vê o retrato? O que deve olhar? Aqui está, sem dúvida alguma, a entranha da questão”.

- o retrato, representação do rosto, captura _ põe em jogo toda a filosofia do sujeito, segundo Nancy | põe a nu a estrutura do sujeito? desvelamento do eu (um olhando o outro para desenhá-lo, dizê-lo)
- produzir a exposição do sujeito, mais que representar: e como fazer isto para a morte?
- “tirar uma foto”: sacar para fora, conduzir adiante, extrair da morte? salvar?
- dar um retrato aos mortos (à morte) para que eles (ela) nos veja a partir de lá? que continue a nos ver, e assim, por reflexo (cruzamento de ohares, nossos e dos mortos/da morte) nós continuemos a nos ver? Arte e representação como duração e duração instintiva (o impulso criativo como compensação da consciência da morte) e o retrato como uma espécie de garantia simbólica do nosso próprio rosto/nossa existência. algo que nos concretize o impalpável da imagem de nunca estarmos a nos ver, mas de nos provarmos vivos por sermos vistos, porque outros nos veem, até depois da morte;
- quando um rosto revela a nudez do corpo?
- retratar (pensar no verbo no sentido de ‘desculpar-se’): desculpar-se de que ofensa? Com quem nos desculpamos? O retrato é um retratar-se?
- tabu e captura: o retrato talvez abra um segredo
- dos nossos objetos cotidianos, a fotografia é o único a habitar também o espaço da morte (o cemitério, o santuário); há toda uma fronteira de objetos que pertencem à morte e fazem parte dela: o retrato, a flor, a vela (com um impacto mais dissolvido). Dentre todos, a fotografia é i que mais cabe neste espaço de ‘fronteira’, entre vida-e-morte.
- como o retrato na morte (no contexto dela) afeta os nossos demais retratos, os que estão ‘fora’ dela? ao retrato se transfere uma força simbólica que faz dele nosso semelhante, nosso duplo ‘concreto’, que nos adverte sobre nós mesmos e (talvez) nos salve de nós mesmos? Daí o seu fascínio?
- Derrida em “Fornecer o subjetivo”: fala numa identidade que desidentifica sujeito e suporte; fotografia como rasura;
- fotografias são ambíguas, são formas de entrar em contato com a ambiguidade;  negativo e positivo; figura-e-fundo; velado e revelado; profundidade e superfície;
- Hegel: a pintura é ponto de equilíbrio entre exterioridade e interioridade;

- moeda nos olhos | moeda de Caronte: pagar a travessia fúnebre | os corvos da barca | nigredo